Região concentra quase toda a produção do grão no país. Aumento da safra e importações influenciam na queda dos preços
G1/ - O arroz está com preços muito baixos e os agricultores do sul do país, onde se concentra praticamente toda a safra, estão se mobilizando para buscar alternativas.
Gabriel Nau, que planta arroz em 50 hectares arrendados em Biguaçu, Santa Catarina, vendeu as três mil sacas que colheu, e conseguiu 54 mil reais, mas ele deve 80 mil reais para o banco.
Segundo a Epagri, a empresa de pesquisa e assistência técnica de Santa Catarina, o custo de produção de uma saca de arroz, na região, é de 27 reais e o preço de venda, 18 reais. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Biguaçu, Leonildo Zimerman alerta que o prejuízo é geral, na região. “Cem por cento dos agricultores estão endividados, com dificuldades”, afirma.
Na propriedade de Denilson Printer, vizinho do Gabriel Nau, a colheita ainda não terminou por causa da chuva. Segundo ele esta é a pior crise dos últimos anos. “Houve épocas ruins, mas não foram tantos anos seguidos. Agora está complicado. Hoje eu tenho dívida com o banco e terceiros, o que dá cerca de 200 mil reais. São dívidas que vão se acumulando. Um ano é por causa de uma chuva de granizo, no outro é um clima quente que aborta a flor, e a produção vai baixando”, explica.
O preço do arroz está baixo por dois motivos principais: o primeiro é que a safra este ano cresceu, são dois milhões de toneladas a mais do que o produzido na safra passada. O outro é a importação do Mercosul. Todos os anos entram no país cerca de um milhão de toneladas do grão.
A crise também atinge os produtores do Rio Grande do Sul, estado que mais produz arroz no Brasil. Com dívidas vencendo, produtores gaúchos e catarinenses se reuniram na terça-feira em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul e firmaram um documento pedindo a criação de um subsídio chamado "preço meta".
Funcionaria assim: o governo pagaria ao produtor a diferença entre o preço mínimo, de 25,80 reais e o preço praticado no mercado, que está em torno de 18 reais. Hoje, o subsídio seria de 7,80 reais por saca.
Outras reivindicações seriam o adiamento das dívidas até 31 de outubro e a suspensão da importação de arroz do Mercosul por seis meses. Como protesto, os arrozeiros interromperam o trânsito na ponte que liga o Brasil e a Argentina.
Na quinta-feira, representantes dos arrozeiros estiveram em Brasília para uma reunião no Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio com parlamentares gaúchos para discutir as importações do Mercosul.
Ao final da reunião, o ministro interino, Alessandro Teixeira, foi categórico. “Não é possível atender a este pedido. Nós deixamos claro nesta reunião, que as exportações de outros países do Mercosul estão dentro do acordo de livre comércio de mercadorias”.
O presidente da Federarroz, Renato Rocha, comentou o resultado da reunião. “Se não for revisado o tratado do Mercosul - que nós não somos contra, mas não podemos pagar a conta da integração –no ano que vem nós vamos voltar pra cobrar, porque tem um excedente da produção, ele vai achatar o preço e isso acaba estourando no governo. O governo tem que entender de uma vez por todas que a cadeia produtiva do arroz vai quebrar”.
Os ministérios da Fazenda e da Agricultura já autorizaram a Conab a realizar operações de venda futura para 500 mil toneladas de arroz. Por este mecanismo, os produtores têm a garantia do pagamento do preço mínimo estabelecido.
Sobre as outras reivindicações do setor, como a suspensão do pagamento de dívidas até outubro deste ano, o Ministério da Fazenda explicou que não vai atender, porque os produtores já podem procurar os bancos para renegociar as dívidas caso a caso.
Quanto a criação do "preço-meta", a subvenção pedida pelo setor, o Ministério da Fazenda informou que a medida só poderá ser adotada por meio de uma lei aprovada no Congresso Nacional.
Insatisfeita com as repostas conseguidas até agora, a Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul solicitou, para esta semana, uma audiência com o ministro-chefe da Casa Civil, Antônio Palocci.
Gazeta do Povo