Agro do Mercosul é o que mais cresce no mundo até 2050
Estudo aponta potencial, mas alerta que custo alto torna o Brasil vulnerável a crises
A produção agrícola do Mercosul deve crescer mais do que em qualquer outra região do planeta nos próximos 40 anos, segundo um novo estudo das equipes de São Paulo e Chicago da consultoria americana Bain & Co. Apesar de traçar um cenário favorável para o Brasil, o relatório faz dois alertas com relação ao País. O primeiro é que os custos de produção e transporte das safras é muito maior do que o dos concorrentes, o que torna os agricultores vulneráveis. O segundo é que a expansão da agricultura exigirá grandes extensões de terra adicionais, ao contrário das projeções de que só o ganho de produtividade seria suficiente para abastecer o aumento da demanda mundial.
O estudo é focado em cinco produtos de forte comércio internacional: açúcar, soja, milho, trigo e arroz. Considerando essas culturas, a Bain projeta que Brasil, Argentina e Paraguai vão ampliar a produção em 82% entre 2010 e 2050, praticamente o dobro da média mundial, de 44%. Os especialistas consideraram apenas as regiões do mundo onde a agricultura já está estabelecida, por conta das incertezas quanto ao desenvolvimento de novas regiões, como partes da África.
Mas todo esse potencial do Mercosul, concentrado no Brasil, não deve esconder o fato de o País ter altíssimos custos de produção, alerta um dos autores do estudo da Bain, o sócio Fernando Martins. “A história do agro brasileiro é bonita, mas é fácil esquecer que ela tem riscos”, diz ele.
A região de custos mais altos é o cerrado, justamente onde há maior potencial de expansão da produção agrícola. “O cerrado exige correção de solo com calcário, alto nível de fertilização e sofre com a distância dos portos, porque a logística é péssima”, explica Martins. O frete de soja do Mato Grosso até o porto custa US$ 105 por tonelada (2010), contra US$ 35 no Rio Grande do Sul e US$ 18 nos Estados Unidos. Por tudo isso, o custo da tonelada de soja do Mato Grosso em 2010 foi de US$ 336,60, bem acima do Paraná (US$ 260), do meio-oeste americano (US$ 221,20) e do pampa úmido argentino (US$ 167,30), aponta o estudo.
Os autores explicam que os altos custos fazem do Brasil um produtor marginal, aquele que é o primeiro a sair do mercado quando a demanda ou os preços caem. “O Brasil só está no mercado porque o mundo precisa muito da nossa produção”, diz Martins.
O cenário de longo prazo é de crescimento contínuo da demanda, como o próprio relatório da Bain ressalta. A população mundial crescerá 0,7% ao ano de 2010 a 2050, e o consumo per capita somado dos cinco produtos do estudo será de 0,3% ao ano. Ou seja: haverá mais gente, comendo mais. Resultado: a demanda agrícola global crescerá 1,1 bilhão de toneladas nos próximos 40 anos.
Mas os custos altos tornam os produtores brasileiros mais vulneráveis a crises pontuais, que sempre podem ocorrer. “Se houver uma retração mais forte da economia chinesa, por exemplo, os primeiros a deixar de ter viabilidade econômica serão os agricultores do cerrado”, alerta o especialista.
Os analistas da consultoria concluem no estudo que a solução mais eficaz a curto prazo para diminuir os custos e a vulnerabilidade desses agricultores é investir na logística. Afinal, o frete pode representar um terço do valor da soja entregue no porto, por exemplo. “Consertar os custos internos das fazendas depende de pesquisa agrícola e tecnologia e levará 15 a 20 anos. Resolver os custos fora da porteira depende só de capital e dá resultado em cinco anos”, explica Martins.
Nesse sentido, reduzir o custo de transporte significa proteger o País contra possíveis crises externas que afetem o agro. Ou mais: pode ser o diferencial contra outros países que hoje têm custos altos, mas que estão se esforçando para ficar mais competitivos. “Não consideramos esses países no estudo, mas vemos Sudão, Congo e outros fazendo o possível para atrair mais investimentos”, conta.
Já o Brasil anda na contramão, paralisado nos investimentos em infraestrutura e limitando os investimentos estrangeiros em terras, segundo o sócio da Bain. É o que ele chama de “piora do macroambiente regulatório para investimentos”.
Mais terras
Os investimentos em logística tendem a se tornar ainda mais necessários, à medida que o agro se expande para regiões com infraestrutura ainda mais deficitária. Ao contrário do que muitos especialistas preveem, o estudo da Bain projeta que grande parte do crescimento da produção do Mercosul virá da expansão da área plantada, e não do aumento da produtividade. A previsão é que, dos 262 milhões de toneladas anuais a mais que a região deverá estar produzindo em 2050, 200 milhões sejam obtidas com novas áreas e cerca de 60 milhões apenas com melhora da produtividade.
A tecnologia, no entanto, será um fator crucial para ambas as formas de expansão. “Além de elevar a produtividade, a tecnologia deverá viabilizar a produção em áreas hoje pouco produtivas ou mesmo impróprias para a agricultura”, acredita Martins.
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