Elevada procura, no começo da pandemia, também afetou custo
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgado nesta semana aponta que, em abril, os preços dos alimentos que compõem a cesta básica aumentaram em 16 capitais em relação a março. Entre os itens analisados, a carne bovina apresentou uma alta expressiva. Elevação no custo justificada no aumento das exportações do produto, o que acaba reduzindo a oferta para o mercado interno.
Em Bagé, o cenário, conforme o empresário do segmento frigorífico, Edson Endres, explica que no caso local, o principal efeito de uma elevação em preços está também na baixa oferta de animais que ocorre pela severa estiagem que assola a região. “Esse impacto se dá porque o período normal de redução na oferta de animais para a indústria se dá, tradicionalmente, em junho, que é o ápice no período de falta de acabamento de animais para abate; porém, essa condição se potencializou bem antes, em abril, em especial para a oferta de gado jovem, novilho, novilha, animais de 24 meses com acabamento de gordura padrão 3”, comenta Endres.
Em relação ao preço, o empresário reforça que a indústria está pagando um custo próximo ao praticado no ano passado, mas, para o consumidor, o preço ainda está estável. Na época, houve um aumento de custo da carne bovina em 2019 por uma série de fatores, o mais efetivo foi o aumento das importações por proteína animal feita pela China. O país asiático sofria com a perda em um considerável efetivo de rebanhos devido à peste suína africana; com o crescimento das exportações o próprio mercado interno regulou um reajuste no preço do produto, pois, há alguns anos, o setor não tinha o custo da carne bovina atualizado.
Alta procura altera preço
Na outra ponta da cadeia, o consumidor acaba sentindo os efeitos desse contexto. Porém, uma curiosidade apontada pelo Procon é que o alto consumo de produtos no início da pandemia da covid-19 no Brasil pode ter afetado o preço da carne. De acordo com o coordenador do Procon municipal, Marcelo Nalério, a carne de segunda sofreu alta no custo, enquanto a de primeira teve baixa. “No começo do isolamento, as pessoas estocaram carne, achando que poderia faltar o produto. Isso fez com que os preços aumentassem. Por outro lado, como não fizeram mais churrasco, acabaram não consumindo a carne de primeira, o que levou a uma baixa no preço do produto", explica o coordenador.
Outro fator apontado pelo Procon é que os exportadores precisavam cumprir com os compromissos firmados antes da pandemia, o que também fez com que algumas peças de carne estejam em falta no mercado. “Nós recebemos relatos de supermercadistas que não conseguem encontrar determinadas peças para venda”, conta Nalério.
O mercado seguirá consumidor
Aliado a esse cenário de estiagem, a indústria, conforme Endres, sofre ainda com uma menor produção de gado em virtude do aumento de áreas com soja e, também a exportação de gado vivo para países árabes. No entanto, a expectativa, segundo o empresário, é positiva porque dentre outros setores, o mercado de produção de proteína animal deverá se manter ativa, mesmo com a pandemia do coronavírus. “Mesmo que não saibamos como se dará a conjuntura econômica mundial devido ao coronavírus, porque afetará o poder de compra do consumidor, as pessoas não podem deixar de comer, mesmo em uma situação de crise econômica”, analisa.
Fonte: https://www.jornalfolhadosul.com.br/noticia/estiagem-provoca-aumento-no-preco-da-carne